Não há como falar de relações saudáveis ou doentias sem entender minimamente o
tijolo básico da psicologia e de todas as ciências humanas, o fenômeno mais
complexo: o pensamento!
Conhecer quem somos, pelo menos minimamente, muda
a nossa maneira de ser, reagir e nos relacionar. Entretanto, a maioria dos casais
mora em residências, mas desconhece a sala de estar da sua mente – quem dirá do
seu parceiro. São dois amantes desconhecidos, que não poucas vezes se assustam
quando moram juntos.
Sem o estudo sistemático e detalhado do átomo, a física e a química não dariam
saltos surpreendentes na sua produção de conhecimento e na promoção de novas
tecnologias.
Ficaria na infância. Sem o estudo da célula, a biologia, a medicina e a
agricultura, por exemplo, ficariam também na sua meninice, sem produzir
qualquer conhecimento que impactasse a saúde e a produção de alimentos.
Infelizmente a psicologia, a sociologia, a psicopedagogia, as ciências jurídicas, a
filosofia, enfim as ciências humanas, não estudaram sistematicamente seu
“átomo”, sua “célula”, seu tijolo básico: o pensamento.
O pensamento é o instrumento fundamental para interpretar, julgar, analisar,
construir, excluir, incluir, doar-se, ser egoísta, ser seguro, fóbico, alegrar-se,
entristecer-se, amar, odiar. Brilhantes pensadores, como Sartre, Freud, Jung,
Adler, Skinner, Roger, Piaget, Kant, Hegel e Descartes, não tiveram a
oportunidade de estudar sistematicamente o pensamento e usaram-no como um
tijolo pronto para edificar teorias sobre a formação da personalidade, dos
traumas, das relações sociais, do processo de aprendizado, inclusive sobre o ser
humano como agente sociopolítico.
Atualmente, nas neurociências, há a preocupação de estudar o pensamento.
Mas uma coisa é estudá-lo do ângulo neuronal, metabólico-cerebral; outra coisa é
estudá-lo do ângulo intrapsíquico e psicossocial. Vejamos algumas indagações
fundamentais.
O que é o pensamento? Qual é sua natureza? Ele é real ou virtual? O
pensamento incorpora ou não a realidade do objeto pensado? Será que um
psiquiatra ou psicólogo experiente consegue atingir a realidade intrínseca do
pânico, da ansiedade ou do humor depressivo dos seus pacientes ou ambos estão
em mundos intransponíveis?
Veja que as respostas a essas questões mudam grande
parte do que sabemos sobre nós. E observe a seguir outras indagações igualmente
fundamentais.
Quais são os limites e a validade do pensamento? Como ele se constrói? Quais
são os tipos de pensamento? A educação liberta todos os tipos de pensamento ou
vicia seus alunos nos pensamentos mais pobres? Que fenômenos psicológicos estão
envolvidos em sua construção? Somos livres para pensar ou a liberdade é uma
falsa ilusão das sociedades democráticas?
Novamente, as respostas a essas
perguntas podem virar de cabeça para baixo as ciências humanas. Infelizmente,
por não termos estudado o tijolo básico da mente humana, estamos, na melhor das
hipóteses, apenas na adolescência científica. Tive o privilégio de passar décadas
produzindo uma teoria sobre esse tijolo vital e pelo menos os meus paradigmas e
os meus preconceitos foram virados de cabeça para baixo.
Vejamos mais alguns questionamentos. Quando um casal discute entre si, eles
estão discutindo sobre a essência de sua emoção e intelecto ou estão falando de si
mesmos? Um parceiro, ao usar as matrizes do seu raciocínio, incorpora a
realidade das necessidades e angústias de sua parceira? Ou eles vivem
invariavelmente solitários, mesmo dividindo o mesmo teto? Uma parceira, quando
ama seu parceiro, de fato ama a essência dele, ou ama a si mesma, ou melhor,
ama o outro refletido em si?
Trecho: As regras de ouro dos casais saudáveis