As sociedades evoluíram
em muitos aspectos, em alguns estacionaram e ainda em outros involuíram.
Evoluímos muito na medicina curativa e preventiva. Prolongamos a vida. Algumas
populações vivem em média 80 anos. Aumentamos o tempo de vida biológico, mas
como anda a vida média emocional? No meu entender, a diminuímos. Contraditório?
Sim.
No passado vivia-se 40
ou 50 anos, mas sentia-se a existência como se ela se estendesse por 400 ou
500 anos. Os eventos eram suaves e lentos. Havia tempo para sentar na varanda,
dialogar com os amigos, fazer coisas singelas e extrair grandes prazeres das
pequenas atividades. Havia sorrisos reais nos rostos.
Hoje tudo é extremamente
rápido, urgente, ansioso, angustiante. Muitos adultos sentem que dormiram e acordaram
com 40, 50 ou 60 anos. Têm a impressão de que ontem eram crianças e hoje estão
com cabelos grisalhos. Não encontram tempo para conviver com as pessoas que
amam nem para dialogar com eles mesmos. Atualmente muitos sorrisos são
disfarces.
As pessoas não têm tempo
para repensar sua história e filosofar sobre a vida. Raros são os que investem
em seus projetos e sonhos mais cálidos. Não sabemos fazer uma parada estratégica
para corrigir nossas rotas. Às vezes me vejo preso nesta armadilha.
A oração do Pai-Nosso
foi uma dessas excelentes paradas estratégicas de Jesus para pensar os
segredos que tecem a vida e refletir sobre os seus mais importantes projetos.
Ele interrompeu todas as suas atividades para discursar profundamente sobre o
Autor da vida e o ser humano.
Jesus estava
famosíssimo. Como muitos que atingem um sucesso estrondoso, era de se esperar
que não tivesse tempo para mais nada, que fosse vítima da própria fama e
tivesse se tornado uma máquina de resolver problemas.
Mas, para surpresa da
psicologia, ousou refazer sua agenda para ensinar a pensar. Para espanto da
filosofia, subiu a uma montanha para ver o horizonte e lá fez um excelente
mergulho em seu interior, estimulando os discípulos e a multidão a serem
caminhantes no insondável mundo que os tecia como seres pensantes. Foi um
fascinante convite à introspecção.
O tempo parou para que
ele analisasse os ditames da vida. Jesus instigou seus ouvintes a expandirem
sua capacidade de observar, interiorizar, deduzir, criticar e agir. Não queria
gerar servos tímidos, frágeis, submissos, mas pensadores livres que mudassem
a geografia da história, pelo menos da própria história.
Nesse clima, ele ensinou
a sua famosa oração. Ela é dirigida a todo ser humano, de qualquer raça,
cultura, religião, mas em especial aos que têm coragem para se esvaziar e se
tornar eternos aprendizes, aos que procuram a serenidade e a mansidão, aos que
têm sede e fome de justiça, aos que querem construir uma nova sociedade.
Jesus quis mostrar que
ninguém deve ser classificado em função de sua liderança empresarial, da fama,
da capacidade intelectual ou de títulos teológicos. Demonstrou que, para conhecer
Deus e a si mesmo, é necessária uma única condição: ser uma pessoa parente, desprovida de maquiagem social. Um simples carpinteiro
deixou embasbacados homens e mulheres. O homem que entalhou madeiras usou
hábeis palavras para lapidar a alma humana.
Trecho do Livro Os segredos do Pai-Nosso
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