Search This Blog

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Eu sou Zoey Redbird



crá! crá! crá! de uma gralha idiota não me deixou dormir a noite inteira. (Bem, para ser mais precisa, o dia inteiro – é que, sabe, sou uma vampira novata e existe toda aquela história de trocar o dia pela noite.) Enfim, não preguei o olho na noite/dia passado. Mas, no momento, essa droga de noite em claro é a coisa mais fácil de encarar, porque a vida é um inferno quando a gente está de mal com os amigos. Eu sei bem. Eu sou Zoey Redbird, atualmente a incontestável Rainha da República dos Amigos "P" da Vida.


Persephone, a enorme égua cor de canela que considerava minha enquanto morasse na Morada da Noite, virou a cabeça e esfregou o focinho no meu rosto. Beijei seu focinho macio e voltei a esfregar seu pescoço. Escovar Persephone era algo que sempre me ajudava a pensar e a me sentir melhor. E eu, com certeza, precisava das duas coisas.
– Tudo bem, consegui evitar o Grande Confronto por dois dias, mas não dá mais para continuar assim – eu disse à égua. – Sim, eu sei que eles estão no refeitório agora, jantando juntos, superamiguinhos e me deixando totalmente de fora.
Persephone resfolegou e voltou a mastigar feno.
– É, eu sei que eles também estão sendo uns babacas. Claro que eu realmente menti para eles, mas na verdade foi mais uma omissão. Tudo bem que os deixei de fora de alguns assuntos. Mas foi basicamente pensando no bem deles mesmos – suspirei. Bom, foi para o bem deles que eu não havia dito que Stevie Rae tinha virado morta-viva. Minha história com Loren Blake, PoetaVamp Laureado e professor da Morada da Noite, bem, isso foi mais pensando em mim mesma. Mas mesmo assim. Persephone levantou a orelha para me ouvir. – Eles estão me julgando demais.

Persephone resfolegou de novo. Suspirei novamente. Droga. Eu não aguentava mais ficar evitando o pessoal.
Depois de dar mais uns tapinhas no lombo da doce égua, fui saindo lentamente da baia em direção à sala de equipamentos e guardei as escovas que havia usado nela por uma hora. Respirei fundo o cheiro de couro e de cavalo para que aquela mistura relaxante me acalmasse os nervos. Ao ver meu reflexo no vidro da janela da sala de equipamentos, automaticamente passei os dedos pelos meus cabelos negros, tentando deixá-los menos desgrenhados. Eu havia sido Marcada como vampira novata e me mudado para a Morada da Noite fazia pouco mais de dois meses, mas já dava para perceber que meus cabelos estavam mais grossos e mais compridos. E ganhar cabelos maravilhosos foi apenas uma das muitas mudanças que me aconteceram. Algumas dessas mudanças foram invisíveis – como o fato de eu ter afinidade com todos os cinco elementos. Já outras eram bem visíveis – como as peculiares tatuagens que me emolduravam o rosto com curvas intrincadas e exóticas, sendo que, diferentemente de qualquer vampiro novato ou adulto, o desenho em tom de safira se espalhava pelo pescoço e ombros abaixo, alcançando a espinha e, mais recentemente, a cintura, uma pequena novidade que só eu, minha gata Nala e nossa Deusa Nyx sabíamos. Como se eu tivesse mais alguém para mostrar.
– Bem, até dois dias atrás você tinha não apenas um, mas três namorados – eu disse, olhando para minha imagem no vidro com olhos pesados e um meio-sorriso cético. – Mas você deu um jeito nisso, não deu? Agora você não tem namorado nenhum, só que ninguém vai voltar a confiar em você de novo por pelo menos, sei lá, alguns zilhões de anos – tirando Aphrodite, que surtou geral e caiu fora dois dias atrás, achando que de repente tinha virado humana outra vez, e StevieRae, que foi atrás da surtada Aphrodite por se sentir culpada pela transformação de novata a humana quando tracei um círculo, o que a transformou de morta-viva sinistra em vampira esquisita de tatuagem vermelha. Mas ao menos ela voltara a ser a Stevie Rae de antes. – Sejacomo for – eu disse em voz alta –, você conseguiu ferrar com todo mundo que entrou em sua vida. Bom trabalho!
Meus lábios começaram a tremer e senti as lágrimas se formando nos olhos. Não. Ficar de olhos vermelhos não ia ajudar em nada. Tipo, na boa, se ajudasse em alguma coisa, meus amigos e eu já teríamos feito as pazes. O negócio era encará-los de frente e tentar dar um jeito na situação.
A noite de fim de dezembro estava fria e um pouquinho nebulosa. Ao longo da calçada, entre a área da estrebaria e da arena esportiva e o edifício principal da escola, os lampiões a gás cintilavam com pequenos halos de luz amarela, dando um toque de beleza antiga ao lugar. Na verdade, o campus inteiro da Morada da Noite era belíssimo e sempre me pareceu pertencer mais a uma lenda tipo Rei Arthur do que ao século XXI. Eu adoro isto aqui, procurei lembrar. É meu lar. É o meu lugar. Vou fazer as pazes com meus amigos e então tudo vai dar certo.
Eu estava mordendo o lábio, preocupada em descobrir exatamente como ia fazer as pazes com meus amigos, quando meu estresse mental foi interrompido por um barulho esquisito de asas batendo que tomou conta do ambiente ao meu redor. Algo naquele som me provocou um frio na espinha. Olhei para cima. Não havia nada acima de mim, a não ser o breu, o céu e os galhos secos dos enormes carvalhos que margeavam a calçada. Fiquei arrepiada e me senti a um passo da morte, e a noite antes suave e nebulosa ficou soturna e malévola. Peraí! Soturna e malévola? Ora, que bobeira! O que ouvi provavelmente não era nada mais sinistro do que o vento soprando por entre as árvores. Nossa, eu estava ficando pirada.
Balançando a cabeça em autocensura, continuei caminhando, mas depois de dois passos a coisa aconteceu de novo. Ouvi o barulho esquisito de asas batendo acima de mim e senti na pele um sopro de ar forte e uns cinco graus mais frio. Automaticamente levantei a mão, imaginando morcegos, aranhas e todo tipo de coisas nojentas.
Meus dedos encontraram um vazio, mas um vazio glacial, e uma dor gelada me cortou a mão. Completamente surtada, dei um berro e apertei minha mão junto ao peito. Por um momento, fiquei sem saber o que fazer, e meu corpo se paralisou de medo. O bater de asas ficou mais alto, e o frio mais intenso, até que finalmente resolvi me mexer. Abaixei a cabeça e fiz a única coisa que podia. Corri até a porta mais próxima. Depois de correr para dentro, bati a grossa porta de madeira e, arfando, fui espiar pela janelinha em forma de arco que havia no meio da porta. A noite se mexia e boiava debaixo dos meus olhos como se uma tinta preta tivesse sido jogada sobre uma página preta. Mas eu continuava sentindo aquele medo terrível e glacial. O que estava acontecendo? Quase sem perceber o que estava fazendo, sussurrei: – Fogo, eu o invoco. Preciso de seu calor.
O elemento respondeu imediatamente, aquecendo o ar ao meu redor como se eu estivesse perto de uma relaxante lareira. Ainda espiando pela janelinha, apertei as palmas das mãos contra a grossa madeira da porta. – Lá para fora – murmurei. – Mande seu calor lá para fora também – o elemento projetou seu calor através da porta e alcançou a noite do outro lado. Ouvi um chiado, que pareceu o som de calor emanando de gelo seco. A névoa se agitou, grossa e densa, medeixando tonta e um pouquinho enjoada, e o estranho breu começou a evaporar. Então, o calor dominou totalmente o frio e, tão de repente quanto começara, a noite ficou normal e tranquila de novo. O que havia acabado de acontecer?
Minha mão dolorida desviou minha atenção da janela. Olhei para baixo. Havia manchas vermelhas nas costas da mão, como se algo com garras ou unhas tivesse me arranhado a pele. Esfreguei as marcas de aparência feroz, e minha pele doeu como se tivesse sido queimada a ferro.
Então me bateu uma sensação dura e esmagadora, e foi aí que meu sexto sentido me mostrou que a Deusa havia me avisado que eu não devia ficar lá sozinha. O frio que envenenara a noite – aquele não-sei-o-que fantasmagórico que me perseguiu e machucou minha mão – se transformou em mau presságio e, pela primeira vez em muito tempo, fiquei com medo de verdade, completamente apavorada. Não com medo por meus amigos. Nem por minha avó, nem pelo meu ex-namorado humano, nem mesmo pela minha mãe desnaturada. Estava com medo por mim mesma. Eu não estava simplesmente querendo a companhia de meus amigos; eu precisava deles.
Ainda esfregando a mão, forcei minhas pernas a se mexerem e não me restou a menor sombra de dúvida de que era melhor enfrentar a mágoa e a decepção dos meus amigos do que aquele troço escuro que me esperava em algum ponto escondido da noite.

Trecho de O Vendedor de Sonhos, de de Augusto Cury


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Interesse

10 leis para ser feliz 12 Semanas Para Mudar Sua Vida A ditadura da beleza e a revolução das mulheres A oração do Pai-Nosso A vida alunos fascinantes amor. compaixão Análise da Inteligência de Cristo Análise da Inteligência de Cristo 1 Ansiedade Ansiedade como enfrentar o mal do século ARTIGOS As regras de ouro dos casais saudáveis ateu Augusto Cury auto-conhecimento Beleza feminina e consumo biologia Como um mau aluno virou o escritor mais lido do país Dez leis para ser feliz Dinheiro domine-a drama EBOOK Emoção espectativa Fazer sucesso é proibitivo no brasil felicidade Filhos brilhantes Filhos brilhantes alunos fascinantes fobias FRASES genética graça Individualismo e Individualidade infelicidade interpretação Jesus Jovens ler lógica Manual dos Jovens Estressados Mestre dos Mestres Mulheres Inteligentes Nunca desista de seus sonhos Nunca Desista dos Seus Sonhos O Código da Inteligência O Dinheiro e a felicidade O Espetáculo da Vida O futuro da Humanidade O homem que mais defendeu as MULHERES O mal do século: Depressão ou Síndrome do Pensamento Acelerado? O Mestre do Amor O poder vestiu-se de doçura O Semeador de Ideias Os pais dependem dos filhos? Os segredos do Pai-Nosso Palestra com Tema : Saúde Emocional passado pensamento Persephone Persistência de Pássaros pessoas presente problemas Que mundo é este em que vivemos? RAM Relações Saudáveis respeito sentimentos sofrimento sonhar sucesso Tempestades Testes TEXTOS Tirado do livro - O Semeador de Ideias Trecho de O Vendedor de Sonhos Trecho do livro - Manual dos Jovens Estressados uma parada estratégica Vacinas para as Emoções Valor da Mulher viajar vida VIDEOS Você é Insubstituível Zoey Redbird